top of page

YOGA E OS TRÊS ESTÁGIOS INICIAIS DA LIBERAÇÃO

  • Foto do escritor: Marcelo Augusti
    Marcelo Augusti
  • 28 de jun.
  • 5 min de leitura

Atualizado: há 2 dias

A quietude do corpo, a respiração estável e a serenidade da mente foram definidas como yoga. Aquele que as realizam, liberta-se da ilusão da limitação e da finitude (Katha Upanishad)


No yoga, o objetivo mais elevado da vida de qualquer pessoa é moksha, ou seja, a liberação da condição humana, limitada e finita pela própria natureza.


Realizar moksha é liberar-se definitivamente de todo karma, o elemento que causa a reincidência dos infindáveis “ciclos de renascimentos” (samsara), que nos atam ao sofrimento.


Podemos dizer que o processo de liberação, no yoga, consiste de três estágios iniciais: (1) físico, (2) energético, (3) mental.


Esses estágios estão interconectados e são consequentes. Significa dizer que a realização de um, além de ser pré-requisito para a realização do seguinte, já inicia o processo do próximo.


A realização desses estágios depende da dedicação e perseverança nos estudos, na prática constante das técnicas e métodos do yoga, e do auxílio de um instrutor e de um professor.


É certo que uma etapa exigirá mais empenho e persistência do que outra, a depender do quanto cada indivíduo se mantém interessado e aplicado no aprendizado.


O primeiro estágio é o mais fácil: o domínio do corpo (asana-siddha). Isto se realiza pela prática de exercícios físicos preliminares (Sthula Vyayama) e complementares (Sukshma Vyayama) e, principalmente, pelas posturas do yoga, os asanas.


A palavra asana significa “assentar”. Mas o significado de estar “assentado”, no yoga, vai além do literal, pois, refere-se a uma postura de poder.


O poder que se adquire pelo asana, é o poder da permanência, ou seja, a aptidão de manter-se constante e inalterado.


A prática de asanas, superada as tensões do cansaço muscular e as dores decorrente, devido ao esforço de permanecer-se fixo em uma posição, habilita o corpo a repousar em si mesmo, com firmeza e suavidade.


O que se almeja com asanas, portanto, é a estabilidade completa do corpo. Quando isto se alcança, a permanência torna-se na virtude da quietude, ou seja, um estado de paz interior, de autodomínio, concentração e clareza mental.


A quietude do corpo, portanto, é a via para o “tranquilo permanecer” (shamata), que é o estado mental livre de distrações, perturbações e pensamentos excessivos, onde a consciência permanece em "constante contemplação" (nididhyasana).


E qual asana é o melhor? Qualquer postura em que se possa permanecer firme e confortável, entre três minutos a três horas, este é o seu melhor asana.


Lembrando que o domínio corporal, realizado por meio de asanas, nada tem a ver com proezas de caráter exibicionista. Asana é um aspecto da espiritualidade, não uma expressão da vaidade.


Após estabilizar o corpo na quietude, o segundo estágio é o domínio da respiração. Isto se realiza pela prática de exercícios respiratórios, os pranayamas. A palavra pranayama significa “controle” (ayama) do “ar” (prana).


Prana é o ar que circula no corpo, a substância sutil e invisível que permeia todo o Universo, a própria energia que concede vitalidade a todos os seres. É a força vital que permite e sustenta a vida. O domínio da respiração, portanto, é o controle da energia vital.


O prana flui livremente pelos canais (nadis), que são os condutores dos ‘ares vitais’ por todo o corpo. Enquanto esta energia flui natural e continuamente, a saúde física e mental encontra-se em perfeito estado.


Entretanto, quando o prana sofre bloqueios em seu livre fluir, o corpo enfraquece, a mente se obscurece, a saúde se abala.


A energia vital sofre bloqueios, principalmente, pelas emoções reprimidas, os sentimentos contidos, os pensamentos de ódio, raiva, inveja, vingança, e as frustrações de um modo geral.


Esses ‘entulhos’ bloqueiam os canais, impedindo a renovação do nosso ânimo, do vigor e nossa disposição. Há uma relação direta entre o domínio da respiração e o estado mental, e que se reflete no corpo e em nosso comportamento.


Praticar pranayamas é cultivar a vitalidade e a serenidade. A prática mais básica é a respiração natural. Permaneça em uma postura firme e confortável; observe o ritmo natural de sua respiração, mantendo a atenção no fluxo de ar entrando e saindo pelas narinas. Apenas isso, sem nada interferir.


O domínio da respiração prepara para o próximo estágio. Pois, assim como asanas, pranayama é a base para a mente pacífica.


O terceiro estágio, portanto, é o domínio da mente. Dominar a mente é realizar o “silêncio interior” (Mauna). E isto somente é possível em um corpo em perfeita quietude e uma respiração estável e tranquila.


Porém, o domínio da mente, em relação aos dois anteriores, é um estágio mais difícil de se realizar, pois vai além do controle adquiridos sobre o corpo e a respiração.


A mente é o que nos faz acreditar ser o que somos, seja para o bem ou para o mal. Ela é o sentido da percepção, o arquivo das experiências e a responsável por tudo aquilo ao qual nos identificamos como “eu e meu”.


No yoga se diz que “a mente liberta, a mente escraviza”. Dominar a mente exige muita energia, dedicação e perseverança, pois o egoísmo, resultante das identificações “eu e meu”, é o maior obstáculo a esta realização.


O domínio da mente é o divisor de águas entre aqueles que se entregam seriamente ao yoga e aqueles que são apenas ‘fogo de palha’.


Para o domínio da mente, o estudo do Yoga Sutras é uma precondição indispensável. Pois, aprender a controlar as “flutuações da mente” (citta-vritti), é o primeiro passo que nos conduzirá ao “estado mental pacífico” (nirodha).


O domínio da mente se realiza a partir do “recolhimento interior” (pratyahara), isto é, quando corpo e respiração permanecem tranquilos, e a consciência se volta apenas para o mundo interior, abstraindo-se de tudo ao redor.


Quando a mente se encontra livre das distrações, internas e externas, o passo seguinte é desenvolver e aprimorar a concentração (dharana), direcionando a consciência a um “único ponto fixo” (ekagrata).


No yoga, esse ‘ponto de concentração’, segundo Patanjali, pode ser qualquer coisa, seja um objeto físico ou imaginário, ao qual a mente se fixe, mantenha-se imóvel, sem oscilações e distrações.


Quando a mente permanece fixa no objeto de concentração, ela se estabiliza. E esta é uma das finalidades de dhyana, a meditação ióguica: estabilizar a mente, liberando-a da torrente de pensamentos que faz dela um rio caudaloso.


Realizar o terceiro estágio, a mente pacífica, já terá sido uma grande conquista pessoal. Pois a mente pacífica é o reflexo da natureza sátivica, isto é, aquele elemento da natureza que nos condiciona ao modo da compaixão, da bondade e da equanimidade.


Quem realiza a natureza sátivica experimenta a felicidade, aquela sensação de bem-estar que expressa uma satisfação com a vida, uma ausência de sofrimentos, e o cultivo de bons pensamentos, sentimentos e a prática de ações altruístas.


Aquele que realizou o domínio da mente, estará apto a prosseguir no cominho do yoga, em direção ao autoconhecimento, ou seja, da expansão da consciência e da superação do egoísmo.


Os dois primeiros estágios se conquistam de modo mais fácil; basta estar determinado e seguir à risca as recomendações de um instrutor.


O terceiro estágio, depende de uma perseverança ferrenha e uma constância firme na meditação, e pede o auxílio de um professor.


Os três estágios são apenas a etapa inicial e básica na jornada para a liberação.


Yoga, você já sabe: estude, pratique, viva.


Hari Om Tat Sat.

 

Cultive a bondade amorosa para com os felizes, a compaixão pelas pessoas que estão sofrendo, a alegria apreciativa por aqueles que estão bem e a equanimidade para com aqueles que se opõem à vida virtuosa. Pois essas são as qualidades da mente pacífica (Yoga Sutras, I, 33).

Comments


©2022 por Sotapanna Yoga. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page