top of page

FENG SHUI: ALGUMAS NOTAS

  • Foto do escritor: Vanice Jeronymo
    Vanice Jeronymo
  • 2 de nov. de 2022
  • 5 min de leitura

Atualizado: 3 de nov. de 2022


ree

Cada membro de uma família

possui uma grande responsabilidade

para com o futuro das gerações vindouras


O Feng Shui tem sido uma das artes orientais mais disseminadas entre nós, ocidentais. Ávidos por moradias cujas energias consigam transitar livres e positivamente, de forma a favorecerem o rumo de nossas vidas em direção à prosperidade, seja esta financeira ou afetiva, buscamos os ensinamentos do Feng Shui para conseguirmos os benefícios almejados.


Pois bem, muitos de nós associamos tal arte apenas com decorações e maneiras de acondicionarmos paredes, telhados, jardins e objetos para assim possibilitarmos melhorias em nossas vidas. Outros consideram que seja algo místico e enigmático. Alguns acreditam no Feng Shui como a prosperidade que resulta da convicção na cura pela aplicação das técnicas. Outros ainda o atribuem à uma bobagem que deve ser desconsiderada pois supõem não haver nada que remeta ao tipo de concretude e conhecimentos com os quais nossos engenheiros e arquitetos estão acostumados a lidar. Mas, o Feng Shui pode ser muito mais que tudo isso.


O termo Feng Shui (pronúncia fon xuei) significa vento e água e seu conceito está ancorado no entendimento chinês de que as pessoas vivem entre o Céu e a Terra e assim, estão sob suas influências. Nesta conjuntura, Céu, Humanos e Terra formam uma tríade que deve se manter por meio de um inter-relacionamento extremamente harmônico. Se os seres humanos estiverem em desacordo com os outros dois elementos da tríade a consequência do desequilíbrio será o provável aparecimento de doenças e problemas em suas vidas.


O Feng Shui é uma das artes taoístas e, portanto, segue os preceitos dessa milenar sabedoria e filosofia chinesa. Sua base filosófica está fundamentada no movimento do fluxo energético – Qi - e na sua não estagnação, que são preceitos taoístas. O fluxo energético do Céu é representado pelo vento; o fluxo da Terra, pela água. Assim, o Feng Shui busca a harmonia proporcionada pelo Céu e Terra que possa beneficiar as relações entre os seres humanos, seus edifícios e a natureza, considerando a manutenção e movimentação de seus fluxos energéticos.


Os conceitos que norteiam a aplicação do Feng Shui são os de equilíbrio e comunhão dos seres humanos com o Yin/Yang; com os cinco elementos (água, terra, fogo, madeira e metal); com o Pa qua ou Ba gua e com os oitos trigramas do I Ching. São relevantes também as orientações da AstrologiaChinesa para a determinação dos ritmos e ciclos do Universo.


Com ensinamentos profundos e grandiosos, trata-se de uma ciência desenvolvida pelo povo chinês a partir das preocupações com a correta acomodação de seus antecessores. Dotados de uma profunda sabedoria e elevada cultura ancestral, os chineses elaboraram tal técnica, inicialmente, para orientar a melhor localização para túmulos, templos e locais sagrados – os Yin Zhai. Com o tempo, as diretrizes foram ampliadas para edifícios em geral, sobretudo residências e locais de trabalho – os Yang Zhai.


As habitações Yin Zhai são, portanto, aquelas destinadas aos mortos, enquanto que as que se caracterizam como Yang Zhai, são designadas aos vivos. O Feng Shui, como observado, nasceu das preocupações para com os que se foram, e como esses deveriam ser acomodados para que continuassem a prover seus descendentes com boas energias. A importância do Yin Zhai, portanto, não está na garantia do conforto para o morto em si, mas sim, para seus descendentes. Na perspectiva chinesa, não há noção de futuro sem a valorização do passado, pois o respeito, a reverência aos pais, avós e antepassados em geral estão incrustrados em sua cultura.


Quando se escolhia um jazigo para a morada definitiva, o feng shui considerava a localização na qual a terra fosse provida de uma boa energia. Assim, eram necessários anos de estudos, observações e reflexões para a efetivação da escolha, na qual os aspectos formais se faziam importantes. Surgiu, então, a escola da forma [1], baseada na observação dos formatos dos terrenos para a compreensão da circulação do Qi no local. Finalizados os enterros, construíam-se pequenos montes para que se desse a potencialização da energia local.


Ao se edificar a chamada pedra tumular, o que se pretendia era estabelecer a ligação entre Céu e Terra, trazendo energia do primeiro para o segundo elemento, e fazendo com que a pedra assumisse a função de uma agulha de acupuntura que seria espetada no ponto mais assertivo do solo. Nessa etapa, eram elaborados cálculos precisos para a determinação do local e do horário mais indicado ao sepultamento.


Essa cultura considera que somos nós, não de maneira aleatória, que escolhemos os pais dos quais nasceremos e serão eles que irão constituir a nossa ligação com a energia do Céu, da Terra, da natureza. Daí, para um bem maior e coletivo se concebem as necessidades de estarmos todos conciliados - genitores, filhos, netos, bisnetos etc. - e de perdoarmos as diferenças que eventualmente possam existir entre as gerações.


Os vínculos estabelecidos com nossos pais, podem ser tão intensos que com frequência não se dissipam pela ocorrência da morte, mas se fortalecem quando ela ocorre. Quando os perdemos pela morte, é possível senti-los em nossas vidas de maneiras diversas. É quase que imediato os tomarmos como referências para os enfrentamentos das dificuldades da vida e fazermos reflexões sobre seus legados, que com maior ou menor evidência, certamente existem.


Nessa tradição oriental, acreditava-se que, se os corpos dos falecidos ancestrais repousassem em locais com boas vibrações energéticas, a influência que exerceriam sobre seus descendentes estaria inclinada à positividade e não recairiam sobre eles os males que advêm de um mal feng shui. Se detectado algum problema nesse sentido, fazia-se então a exumação para que se realizasse um novo enterro em local considerado mais adequado. Se o corpo não estivesse em condições energéticas satisfatória, fazia-se a cremação. Ainda que o potencial energético do corpo fosse queimado nesse processo, os males também seriam, e então a neutralidade se instalaria. Portanto, os ancestrais seriam os responsáveis por todo aporte energético de seus sucessores.


Até a entrada do budismo na China, não existia a ideia de transmigração da energia para outros corpos, ou de algum tipo de vida após a morte como é dada na noção de reencarnação budista. A ideia que prevalecia era a de continuidade e construção do legado deixado pelos ancestrais para as gerações subsequentes com o objetivo de assim manterem o prolongamento da vida. A vida futura é compreendia, então, pela maior longevidade das linhagens.


Nesse conceito, cada membro de uma família possui uma grande responsabilidade para com o futuro das gerações vindouras, pois atos e condutas podem comprometer para o bem ou para o mal o futuro de todos que virão posteriormente.


Assim como mostram os ensinamentos do Feng Shui, nós, ocidentais, de algum modo, também cuidamos de nossos antepassados, ainda que de maneiras diferentes e independente das nossas crenças no fluxo de energia.


Nesse sentido, podemos mencionar como exemplos os cuidados com a limpeza dos túmulos, o enfeite dos mesmos com flores, as missas de intenção às almas e as lembranças que ficam guardadas na memória.


Todavia, se não estivermos atentos às rápidas mudanças que solapam as tradições do culto aos ancestrais, corremos o risco, seja por desconhecimento ou rejeição ao tema da morte, de perdermos as referências daqueles que nos permitiram estar aqui.


[1] Existem outras linhas, denominadas, escolas de Feng Shui. Cada uma seguirá técnicas e conceitos específicos sem que uma seja considerada mais correta do que a outra. São elas: Escola das Oito Residências; Escola das Estrelas Voadoras; Escola dos 64 Hexagramas; Escolas dos Três períodos; Escola das Três combinações; Escola do Topo da Montanha.




Comentários


©2022 por Sotapanna Yoga. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page