
Aspectos Psicológicos da Performance Esportiva
Marcelo R. A. Augusti
CREF 006263-G/SP
A competição esportiva exerce uma influência decisiva sobre o comportamento emocional do ser humano.
A tensão emocional, oriunda das altas exigências psicofísicas dos estímulos do treino e da competição esportiva, leva o atleta a apresentar, em muitas ocasiões, comportamentos contrários ao seu nível competitivo, no que diz respeito à preparação física e técnica.
A prontidão para a máxima performance – ou para se fazer o melhor do dia – é uma das virtudes do atleta de alto rendimento, virtude esta que pode ser extremamente abalada diante de um quadro de estresse psicológico, que altera a sua confiança no desempenho.
É certo que o estado psicológico do atleta é fator determinante para o seu melhor rendimento esportivo, pois toda ação mecânica relaciona-se diretamente ao estado emocional do indivíduo.
Essa relação entre movimento e estado emocional deve ser considerada para a otimização dos processos do treino desportivo. Assim, o sucesso no desporto dependerá não apenas da preparação dos aspectos físicos (força, velocidade, resistência, flexibilidade, coordenação, agilidade, destreza, etc.), mas também e, principalmente, dos aspectos mentais ou psicológicos (concentração, atenção, foco, autoestima, motivação, ansiedade).
As influências dos aspectos mentais não se dão separadamente, porém, simultaneamente, pois considera-se que as reações do organismo não ocorrem exclusivamente no âmbito psicológico ou fisiológico, mas em decorrência conjunta desses dois elementos, ou seja, psicofisiologicamente (MIRANDA e BARA FILHO, 1999).
Observa-se no desporto de alto rendimento, que a preparação física, técnica e tática dos atletas das diversas modalidades encontram-se num nível de desenvolvimento equivalente. O que faz a diferença entre o vencedor e o perdedor é o estado emocional do atleta diante das situações do confronto competitivo. Portanto, o estado psicológico ótimo é necessário para se poder transformar o treinamento físico, técnico e tático para uma performance vitoriosa.
Mas, afinal, qual seria o estado psicológico ótimo do atleta de alto rendimento?
Segundo Rioux (in DANTAS, 1995), o atleta de alto nível deve apresentar quatro exigências básicas que são o fundamento para o rendimento máximo: a) personalidade equilibrada, estando sempre pronto a aprender; b) grande potencial energético e necessidade consciente de autoafirmação; c) excepcional resistência às frustrações; d) capacidade de adaptação às mudanças situacionais.
Além dessas características psicológicas, a ambição, o autocontrole, a autoconfiança, a organização mental e a inteligência também fazer parte do quadro psíquico que propiciará ao atleta suportar a dureza do treinamento cotidiano e alcançar o máximo de suas possibilidades físicas, técnicas, táticas e emocionais, por meio da mobilização da sua vontade de vencer.
Uma descrição e análise do estado psicológico do atleta foram realizadas por Alexseev (in MIRANDA e BARA FLHO, 1999), que estabelece três situações características, que são:
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ESTADO PSICOLÓGICO DA NORMA, sendo o estado funcional e saudável do indivíduo, representado pelo equilíbrio emocional para a realização das tarefas básicas do cotidiano. Esse estado psicológico não é o ideal para as disputas competitivas, que exigem uma mobilização das forças físicas e psíquicas do atleta além daquelas exigidas pelo cotidiano. Entretanto, o estado da norma é fundamental para a conservação da saúde do atleta. O estado da norma é favorecido pelos seguintes pontos: não sofrer (o sofrimento provoca o mau funcionamento de todos os sistemas do organismo humano; assim, deve-se criar mecanismos que substituam o sofrimento por outras emoções, exemplo: exercícios físicos ou atividades que supram as necessidades pessoais do atleta, e criação de imagens mentais positivas); manutenção do bom humor (garantia do otimismo, que desenvolve no atleta uma expectativa de sucesso, mesmo com todas as frustrações e reveses); restabelecimento das forças (equilíbrio e manutenção dos gastos energéticos provocados pelo estresse oriundo do treinamento, das competições e do cotidiano social; a recuperação física e mental é importante para a saúde e a qualidade de vida do atleta);
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ESTADO PSICOLÓGICO DA MOBILIZAÇÃO, sendo este o estado ideal do atleta que lhe possibilita a intervenção ótima na competição. O atleta de alto rendimento deve estar continuamente preparado para a execução de tarefas motoras específicas (exigências da modalidade praticada), para a adaptação a novos estímulos (treinamento) e para a superação das dificuldades. Portanto, a integração dos componentes da performance, ou seja, os fatores físicos (força, velocidade, resistência), os emocionais (controle da ansiedade) e mentais (concentração e foco), são imprescindíveis para a obtenção do melhor desempenho, e que pode levar ao recorde pessoal ou até à vitória. No estado de mobilização, o atleta consegue manter sob seu controle um elevado nível dos componentes da performance, do início ao final da competição;
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ESTADO PSICOLÓGICO PATOLÓGICO, que são as manifestações emocionais maléficas para o desempenho desportivo e contrárias à situação ideal psicológica do atleta. Medo, apatia, nervosismo, excesso de ansiedade dentre outros, representam uma desarmonia psíquica que afeta diretamente o desempenho do atleta. Associa-se o estado patológico a uma situação de exaustão psicofisiológica do atleta em relação a suas atividades (esportivas ou sociais). É o estresse crônico, provocado pelo excesso de estímulos físicos, emocionais ou mentais. É o esforço extremo e inútil do atleta para superar as elevadas demandas impostas pelo excesso de treinamentos e competições, a frustração pelo baixo rendimento atlético e resultados ruins.
As desarmonias psíquicas são responsáveis pelo fracasso do atleta nas competições, sendo que elas podem se manifestar algumas horas, dias ou semanas antes das competições, durante as mesmas ou após. Irritação, descontrole, ansiedade, falta de vontade de competir e desinteresse pela prática esportiva são algumas manifestações que indicam uma possível patologia de caráter psicológico que afeta o atleta.
Medidas pedagógicas devem ser tomadas como forma de prevenção para que o atleta não atinja esse estado patológico que, conforme o grau de desenvolvimento, poderá inclusive afastar definitivamente o mesmo do meio esportivo.
Dentre os pontos básicos dessas ações pedagógicas profiláticas deve-se enfatizar a competição como um aspecto a mais do treinamento desportivo, não como uma ameaça à autoestima e autorrealização do atleta. A competição deve ser encarada como uma manifestação espontânea e divertida, fazendo com que os atletas compreendam a sua natureza lúdica, tornando-a um evento atraente e de grande satisfação.
A competição, por mais que se dedique aos treinamentos e seja o objetivo da preparação, jamais deverá ser vista como um fim em si mesmo, porém, como uma oportunidade para testar, medir e avaliar a forma esportiva, possibilitando eventuais ajustes na preparação, a partir de elementos comparativos, que possam servir de parâmetros para a evolução da aptidão atlética.
Além do mais, é fundamental que o atleta saiba reconhecer o momento em que se encontra na preparação, seja para evitar frustrações ou alimentar expectativas irreais sobre o seu desempenho. Isso diz respeito às três etapas básicas do treinamento esportivo, que são:
1) treinar para treinar, ou seja, quando o atleta está iniciando a sua jornada no esporte ou retornando aos treinos após um longo período afastado, onde ele necessita elevar o nível de sua aptidão física geral, minimizando o risco de lesões e o deixando em uma condição ideal para suportar as cargas de treinamento específicas da sua modalidade;
2) treinar para competir, isto é, quando o atleta, após desenvolver a sua aptidão física geral a um nível de “estado de treinamento”, encontra-se apto a suportar elevados volumes e intensidades de cargas específicas, que lhe possibilitem o alcance de uma performance que atenda, ao menos, às exigências mínimas das disputas competitivas de sua modalidade;
3) treinar para ganhar, é quando o atleta alcança a “forma esportiva”, conforme os padrões exigidos de sua modalidade, de modo que ele esteja apto a realizar as tarefas mais árduas da preparação, ser capaz de elaborar estratégias coerentes de competição para a obtenção de resultados, e encontrando-se próximo ou realizando a sua melhor performance.
Diante do foi exposto, a preparação mental para as corridas é um fator determinante do sucesso, tanto no que diz respeito às horas dedicadas aos treinamentos diários, quanto aos aspectos inerentes da atividade competitiva.
Logo, pensar em preparação para corridas, é elaborar as condições ideais de treinamento, conforme seja as particularidades de cada atleta, as etapas do treinamento e as circunstâncias específicas.
A performance esportiva no treinamento de corrida, portanto, se faz pela conexão e harmonia entre a preparação física, técnica, tática e mental, que são as bases da estrutura do treinamento atlético para enfrentar os mais variados desafios dos treinos diários e as mais duras disputas competitivas.
